Esquema novo - O Mal de Gessinger

sexta-feira, 18 de março de 2011

Capa

Comente sobre isso com os seus amigos: http://goo.gl/QDgw6

Trata-se de fenômeno recente e, mesmo ciente de que este espaço não é divã terapêutico, resolvi dividir com você, leitor. Estou com um problema, que, depois de anos alimentados à base de música supostamente inventiva e louca, pensei que estaria livre: o chamado Mal de Gessinger. Trata-se de um impulso incontrolável de escutar a obra desse sujeito peculiar, que durante anos espalhou seus sintomas (overdose de aliterações, autoreferências, estéticas de gosto duvidoso etc.) mais fortes por meio de um vírus chamado Engenheiros do Hawaii.

Por Cristo, pensei que a minha simpatia recém-nutrida pelo Rush era apenas um caso isolado nessa onda de reavaliar meu gosto musical. Se alastrou e alcançou sua espécie de filial brasileira, liderada por Humberto Gessinger. Depois de alguns sonhos me enxergando feliz em karaokê na Bulgária, ao som de O Papa é pop, de me pegar filosofando em cima de coisas como Todo mundo é uma ilha, até pensar com certo carinho no músico antes de assistir a um jogo do Grêmio, e pior, me divertir com a biografia lançada por ele tempos atrás, é melhor deixar para falar sobre o novo disco dos Strokes em outra ocasião.

Aliás, melhor nem falar nada dos nova-iorquinos. Porque com seu novo disco, eles tiveram a proeza de soarem extremamente datados, com tão pouco tempo de existência, e não parecem conseguir sair dessa situação. Uma pena. Pra eles. Porque Gessinger nunca pensaria dessa forma. Seu sonho, assumidamente, sempre foi soar datado, velho, confortável, mudar para não mudar. E quer saber? No carrossel pop não ganha mais quem sobe mais alto, e sim quem fica mais tempo girando. A obra do gaúcho soa sábia na sua estática, nas suas poucas manobras arriscadas, na clareza absurda de se enxergar em seu próprio recorte e dimensão. Todo mundo é uma ilha, certo, mas no caso dos Engenheiros, muita gente é esta ilha, formando uma espécie de arquipélago velho, sisudo, vilipendiado, mas extremamente apaixonado e convicto. Perto de tantas marolinhas e ondas da estação, esta sim é a ilha que não se curva.

Mas meus sintomas são mais graves, a ponto de considerar que o melhor da obra gessingeriana (A revolta dos dândis, Ouça o que eu digo não ouça ninguém, Filmes de guerra... e mais um bocado de coisas avulsas) não faz tão feio assim perto de seus melhores contemporâneos. E pior, muito pior: deixa pra trás uma enorme percentagem do chamado novo rock brasileiro independente. Porque comparar as proezas pop de Além dos outdoors, os arranjos espertos e esquisitos de Filmes de guerra, Canções de amor e Cidade em chamas, o baixo de Sob o tapete, os versos imortais de Crônica com nosso mainstream atual é mais sacana ainda que o tumbler, que fizeram em homenagem ao músico (dê um google e divirta-se).

Sim, a estética do gaúcho alcançaria pontos inacreditáveis de mau gosto. Com a mesma convicção em que vestiu uma calça de moletom vermelha na capa de um disco, ele escreveu versos como os de Canibal vegetariano devora planta carnívora, uma espécie de auge do Mal de Gessinger. Mas quando a gente olha pro lado hoje e enxerga tão poucos com os méritos inegáveis da obra do cara, dá pouca vontade de ficar são. Aos doentes mais antigos, parabéns pela dose de razão. Aos recém-infectados, saiam do armário. Atualmente, faltam vacinas mais eficientes.

Fonte: Divitar-se Uai acessado em 18/03/2011 às 10h14


Comente sobre isso com os seus amigos: http://goo.gl/QDgw6

1 comentários:

ASObr Admin disse...

Show!
Enghaw é pior que AIDS, nem querendo conseguimos largar do mal gessingeriano.
Estou infectado há cerca de 20 anos e, se Deus quiser, passarei o mal para os meus filhos, que ainda virão.